Há um tempinho atrás, vi um quadro do Saturday Night Live com a Winona Ryder imitando/ sacaneando/ homenageando a Björk: ela dava gritinhos histéricos e só sabia repetir "Everyssing is mussic!". Pior que era igualzinha à original..
Embora o quadro tivesse a nítida função de fazer troça com a islandesa-maluquete, seu disco mais bonito é mesmo o "Selma Songs" (já o mais divertido/ dançante, na minha opinião, é o "Debut"), a trilha sonora do filme "Dançando no Escuro", de Lars Von Trier, onde cada barulho de passos ou máquinas é transformado em música.
A gente poderia realmente dizer que tudo é música, se levarmos em conta barulhos constantes e compassados, ou a harmonia caótica dos sons urbanos (sim, há música no caos, uma vez que, segundo a Teoria dos Fractais, mesmo o caos segue padrões de repetição) - no entanto, música não é apenas ritmo, é também harmonia e melodia - e, convenhamos, os barulhos da cidade sugerem mais ruído do que música.
É que ontem eu caminhava ali pelas proximidades do Largo do Machado e ouvia barulhos, ruídos e 'músicas em potencial' - e mesmo com "estes roncos de motores dariam uma música", havia os momentos "essa britadeira me incomoda profundamente", onde eu passava de ouvidos tampados, como sempre faço quando ouço ruídos que me incomodam e nos quais não sinto possibilidades musicais - e, curiosamente, não vejo nunca ninguém fazendo o mesmo.
É, eu sempre reparo se as pessoas se incomodam ou não com os barulhos da rua. E elas não dão a mínima para a barulheira urbana, já incorporaram sirenes, gritaria, buzinas e obras à paisagem urbana - eu é que devo ser uma hippie mesmo!
Na verdade, as pessoas não apenas gostam de ruídos como se sentem desconfortáveis no silêncio absoluto. A falta de respostas no icq incomoda e as pessoas logo perguntam "tá tudo bem, tem algum problema?" - problema nenhum, ué, só não tenho o que responder! O silêncio que cria ruído numa discussão incomoda e cria mais discussão, pois sempre é interpretado como cinismo, burrice, falta de argumento ou, pior, consentimento (ou falso consentimento) com o que está sendo dito - embora o silêncio, muitas vezes, seja sinônimo de paz e falta de disposição para discussões infrutíferas - esses sim, verdadeiros ruídos. Do mesmo modo que as ruas desertas e silenciosas dão medo, e as movimentadas transmitem segurança..
Não é questão de se incomodar com todo e qualquer barulho e viver uma vida em silêncio absoluto - mas sim, se incomodar com os ruídos, limpar o som, tirar os chiados e mesmo que só sobre o caos, ouvir a música que existe ali.
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