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terça-feira, fevereiro 01, 2011

A matemática das vendas de música digital

A matemática das vendas de música digital está toda errada!

Peguemos como exemplo o último álbum do Apples in Stereo, 'Travellers of space and time', à venda pelo site Coolnex.

Se uma faixa custa 1,99, 16 faixas custam...

...o preço de um CD na loja.

Mas você não está pagando prensagem, impressão de encarte, marketing (se teve, foi mal feito, porque descobri sozinha, não fui impactada por nenhuma peça deles além do banner que está no próprio site), marketing em ponto de venda...

...quanto é mesmo que o artista ganha por disco?

Aí, claro, a venda de música digital aumenta exponencialmente a cada ano, mas o download ilegal de música aumenta muito mais. Porque me parece óbvio que os preços praticados neste mercado são irreais.

* * *

Tá, nem tudo é tão absurdo assim nesse mercado.

O One RPM cobra quase metade do preço da faixa e repassa 70% do valor para os artistas, que continuam detentores dos seus direitos. Um preço justo pra não pesar tanto no bolso do consumidor e um repasse honesto para o artista. Tou quase pagando pela discografia completa dos Autoramas porque, né, quero que Gabriel, Flavinha e Bacalhau tenham aposentadorias dignas. Além do mais, 10 reais por um disco completo (sem encarte, sem mídia física, mas tudo bem, passo mais tempo no computador do que na sala) me parece um preço justo, você não acha?


longa vida aos Autoramas!

* * *

A gente sabe que a mentalidade do "tá na internet, pode ser conseguido de graça" já está mais do que instituída, mas que boa parte dos consumidores pagaria se soubesse que o autor da obra iria ganhar com isso. E, convenhamos, 70 centavos por faixa é muito mais do que ganharia no sistema tradicional de venda de disco (aliás, os defensores do ECAD nem comentam que só quem ganha são os 600 'top', né? O artista que toca pouco e, assim, ganha pouco, não leva nada mas contribui pra um dos 600 ganhar - e o cara pode tocar pouco, mas iguais a ele são centenas de milhares que, juntos, não recebem nada do ECAD e comemoram novos modelos de negócios que independem do repasse da entidade que só privilegia um pequeno número de autores).

Os caras da One RPM uniram uma política de preços justos à transparência sobre os valores repassados sobre o artista - sabendo que - e quanto - os autores vão receber, você não paga? Eu pago.

E recomendo que todas as empresas que comercializam arquivos digitais, como filmes, livros e quadrinhos (além de música) pensem que sem prensagem, pdv e afins os preços não podem ser equivalentes aos de um produto físico - lembrem que, a cada arquivo digital que custa tanto ou mais que o livro, a revista ou o filme, alguém sobe um disco inteiro no megaupload. Consumidor não é bobo e sabe quando está pagando mais do que devia... aí sabe o que acontece? Ele não paga, simples assim.

Vamos seguir o exemplo da One RPM?

4 comentários:

Marcos disse...

Pô, uma vez eu estava conversando com um amigo e fizemos também essa conta. Chegamos à conclusão de que só vale a pena comprar músicas longas. Imagina, pagar $ 1,99 num punk rock aceleradinho de um minuto e meio? E se eu comprar 20, sai por uma fortuna! Já pagar o mesmo valor por uma suite de rock progressivo, daquelas que ocupavam um lado inteiro de um vinil, parece bom negócio.

Resumo: música digital veio para ressuscitar os dinossauros.

Paulo Torres disse...

Tive uma experiência parecida, no quesito "sensação de estar sendo extorquido pelos vendedores de arquivos digitais". Quando o Pato Fu lançou o disco Daqui pro Futuro - há coisa de 4 anos - a versão mp3 foi lançada bem antes da versão física. No UOL Música, por R$9,99. Mas só era possível comprar no site pacotes de CRÉDITOS de R$15 ou R$30. Fui eu lá em busca do mp3 gratuito extra-oficial. E meses depois comprei o cd por R$12, na banquinha da banda na porta do show...

O mesmo vale para livros digitais. No Brasil, praticamente só existem em formato DRM-protected, e custando até mais que o livro de papel. Exemplo: "1989: O ano que mudou o mundo" está por R$28,90 o livro físico, e R$31 o e-book com DRM, no submarino. Na web ele pode ser achado em PDF, ePub ou formato kindle em poucos cliques. O mercado de e-books é mais novo que o de musica digital, mas isso seria motivo para que as editoras errassem *menos* que as gravadoras, e não que repetissem os erros.

Lia disse...

Paulo, é exatamente isso!! A indústria do disco foi a primeira a levar tapa na cara e ninguém aprendeu nada com a experiência?

E sobre a sensação de estar sendo extorquido... ela não é nada se comparada à sensação de que eu não faço a menor ideia de quem fica com o dinheiro, mas eu sei que NÃO é o autor da obra que eu tou comprando. Ou seja, se ele não leva nada, prefiro nem pagar por ela. Certo?

Lia disse...

E, Marcos, o problema é que os dinossauros se recusam botar suas músicas na internet. Aí complica até mesmo pra ressuscitar os caras, né?

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